O devorador de sonhos.
Acordei meio zonzo. Era cedo ainda, não estava na hora de ir. Tentei Lembrar o que tinha sonhado. Não recordei sequer o tema desta noite – Sexo, amor, romance, terror, drama e etc. Drama não foi, eu teria acordado chorando... Tampouco sexo, não estava de pau duro.
Lembrei do rosto dela... Foi um romance.
Muitas pessoas se autodenominam devoradoras de livros, devoradoras de filmes. Eu atribuo a mim o título de devorador de sonhos.
“Devorar” é um termo um tanto quanto ambíguo e, por isso, se encaixa tão bem nesses adjetivos compostos. Eu não quero falar dela agora.
Fiz minhas abluções e tentei lembrar o que precisaria fazer hoje por aqui. Irônico: ao mesmo tempo em que eu tinha tantas coisas para serem feitas me parecia tudo inútil. Previsivelmente um dia feito de coisas inúteis é um dia inútil.
Lembrei que ela sorria muito toda vez que eu falava alguma coisa, qualquer coisa. Não lembro o eu estava dizendo, também não sei se vale à pena lembrar.
Ser um devorador de sonhos te dá muitos “poderes”, a um alto custo. Você se torna dependente do que devora ao ponto de passar o dia pensando “hoje quero um sonho que tenha anjos” e esperar que tudo lhe venha de bandeja, como em um banquete.
Eu não sabia por onde começar: ligar o computador, comer alguma coisa talvez... Sair à procura de dinheiro. A fome rugia mais alto, mas mesmo assim não quis comer.
Freud dizia muitas coisas a respeito dos sonhos, algo como “os sonhos são uma mistura das experiências cotidianas com as vontades do sonhador”. Sonhador... Não sou um sonhador exímio, sou realista até demais. No entanto meu prazer ao devorar um sonho é magnânimo.
Sonho:
“Estávamos confortáveis, riamos muito por pouca coisa. Falávamos de coelhos e seus milhares de filhotes. Eu explicava o porquê dos golfinhos se acasalarem mesmo fora do período reprodutivo. De repente alguém bate na porta. Quem apagou a luz? – pergunto furtivo e, em uma fração de segundo ela some. Não verti lágrima alguma.
Respiro aliviado após mais um sonho devorado. “Não era romance, era drama.”
Alexandre Aristides Nicolichi

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